Estradas do interior

Escrito por Bill Meinders

roads-Inner RoadEstradas de cascalho – veias no coração da América, dividindo enquanto interligam. Existe uma progressão natural. Primeiro vêm os caminhos de terra que dão lugar a cascalhos. As estradas de cascalho se convertem em rodovias asfaltadas, que por sua vez ficam maiores e se transformam em autoestradas. Mas autoestradas parecem deixar para trás as terras que atravessam. São caminhos mais simples – como as estradas de cascalho – que estão em maior harmonia com seus arredores. Quando dois veículos se cruzam nessas estradas, eles reduzem a velocidade, e esse ato de cruzar é reconhecido conscientemente. Numa autoestrada, você está indo para algum lugar. Na estrada de cascalho você está fazendo alguma coisa. Você já está lá.

Tenho uma terna lembrança, de quando era jovem, de estar na estrada de cascalho que passava pela fazenda onde cresci. Olhando tudo em volta –, o azul magnífico do céu imenso, o verde vivo estendendo-se até o horizonte em todas as direções, a linha reta, fita de cor creme em que meus pés estavam firmemente fincados – me deu uma maravilhosa sensação de paz. Eu estava consciente de que a terra sob meus pés era parte de um universo vasto em movimento. E me senti no topo do mundo, literalmente, e também figurativamente. Me senti completamente em casa comigo mesmo dentro dessa existência maior.

Prometi a mim mesmo, naquela ocasião, procurar lembrar desse sentimento, mantendo-o como um escudo contra qualquer coisa que viesse em minha vida. Mas, infelizmente, logo perdi meu escudo – a recordação nem sempre pode trazer de volta o sentimento vivo do passado. No entanto, eu estava certo em pensar que ter um escudo era importante, e que essa lembrança me pudesse me envolver. Mas não se trata apenas de lembrar algo que senti uma vez. Trata-se da lembrança de um sentimento presente dentro, agora – não o que foi ou será. E a beleza simples é que, concentrando-me em um lugar de paz dentro, eu recupero meu escudo – para aparar todas as distrações que roubam minha atenção de me sentir um com a vida.

Parado na estrada, quando criança, vi um pequeno redemoinho de poeira aparecer a mais de um quilômetro. Fiquei imóvel, olhando com atenção a interrupção indesejada. Perdi de vista o veículo invasor à medida que ele mergulhava em um vinco da paisagem. Eu sabia quanto tempo eu tinha antes de ele aparecer de novo no meu campo de visão. Corri até a beira da estrada e cai na grama alta da vala – tendo já descoberto que simplesmente parar ao lado da estrada fazia com que o veículo que vinha diminuísse a velocidade enquanto cruzava comigo. Deitado de bruços no declive da estrada ouvi o veículo se aproximar e esperei que o barulho sinalizasse sua passagem. Aí reapareci através da poeira, sem que o motorista percebesse, e recuperei o meu lugar no palco, assistindo, na esteira do recuo do veículo, a nuvem de poeira dispersar-se, beijando suavemente os campos adjacentes.

Clique aqui para ler o texto no original em inglês, publicado no site WOPG em 12 de janeiro de 2013.

Ilustração de Sara Shaffer

Tradução: Cristina Godoy

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